Alzheimer - A doença do esquecimento

Conheça os fatores de risco, os sintomas, as etapas da doença e alguns dos mais recentes avanços terapêuticos.

Alzheimer é uma doença neurodegenerativa crónica, que se caracteriza pela perda progressiva das funções cognitivas cerebrais, como a memória, o juízo, o pensamento abstrato e a linguagem, bem como pelo aparecimento de problemas psicopatológicos e comportamentais. Esta doença provoca um elevado grau de incapacidade para o doente, condicionando fortemente a sua vida e, também, a dos seus familiares ou cuidadores.
A doença de Alzheimer é a causa de demência mais frequente entre os idosos, embora a sua génese ainda seja desconhecida. Nos jovens, é extremamente rara, sendo meramente ocasional entre pessoas de meia-idade. Torna-se mais frequente, isso sim, à medida que a idade avança.
Estima-se que, em Portugal, mais de 200.000 pessoas sofram de demência, 60% a 70% dos casos correspondendo a doença de Alzheimer.

 

FATORES DE RISCO

Uma questão que os investigadores continuam a colocar é: como se desencadeia a doença de Alzheimer? O desconhecimento da causa concreta desta patologia está rodeado de mistério, existindo muitas teorias diferentes, embora nenhuma concludente. O que se conhece são os fatores que podem influenciar o seu desenvolvimento e, provavelmente, acelerá-lo.

  • IDADE – É o fator de risco mais evidente. A partir dos 65 anos, a probabilidade de sofrer Alzheimer aumenta notavelmente. As pessoas que ultrapassam esta idade têm cerca de 10% de probabilidades de sofrer Alzheimer; a partir dos 75 anos, a probabilidade aumenta para 20%; a partir dos 85, para 40% e assim sucessivamente. Especialistas assinalam, ainda, que as mulheres são mais vulneráveis à enfermidade, não porque a probabilidade de sofrê-la seja maior, mas porque têm uma esperança de vida mais alargada.
  • HERANÇA GENÉTICA – As pessoas com antecedentes familiares de Alzheimer podem apresentar um maior risco de desenvolver esta doença, embora não seja um fator muito importante em termos absolutos, já que depende da confluência de outros fatores. De acordo com as estatísticas, apenas 1% dos casos de Alzheimer têm antecedentes familiares.
  • EDUCAÇÃO – Ter uma mente ativa e um elevado nível de escolaridade – e, portanto, de estímulos cerebrais – pode influenciar como fator de proteção.
  • VIDA SAUDÁVEL – Os fumadores, os hipertensos, os diabéticos e as pessoas com colesterol elevado têm maiores probabilidades de desenvolver Alzheimer ou qualquer outra demência.

 

FASES DA DOENÇA

Os neurologistas dividem a evolução da doença de Alzheimer em três fases, segundo a relação do doente com a realidade. Cada uma apresenta características próprias e necessidades específicas. Embora artificiais, estas fases servem, genericamente, de guia para a evolução do doente.

  • FASE INICIAL – O seu decurso é indeterminado e varia de caso para caso, embora se aponte para 3 a 4 anos de duração. É nesta fase que surgem as primeiras falhas de memória, que consistem em esquecer datas e nomes de pessoas, por exemplo. São habituais as mudanças de humor e de ânimo, por vezes motivadas pelo facto do paciente estar consciente da perda de controlo, situação que pode levá-lo a passar por uma fase depressiva.
    Quanto à linguagem e à compreensão, o paciente continua raciocinando, embora revele dificuldades para encontrar as palavras exatas e tenda a misturar ideias que não têm uma relação direta.
    Nesta fase, o doente pode levar uma vida praticamente normal. É nesta altura que deve ter lugar o diagnóstico e durante a qual os familiares devem informar-se sobre o que está para vir, no sentido de se irem adaptando a nova situação.
  • FASE INTERMÉDIA – Os sintomas apresentados são de uma gravidade moderada e resultam da já considerável diminuição da memória do doente, que fica assim mais dependente dos familiares ou cuidadores, para atividades como vestir-se corretamente, lavar-se, comer, etc. O comportamento do doente de Alzheimer pode tornar-se algo agressivo, sendo habituais os medos e as alucinações. A conversação torna-se mais lenta, o doente não acaba as frases e repete as mesmas coisas muitas vezes. Nesta fase, o doente já não pode andar sozinho na rua, porque se desorienta com muita facilidade. O diagnóstico, nesta altura, já não oferece dúvidas, sendo o momento, infelizmente, em que muitos doentes vão, pela primeira vez, ao médico. Esta fase costuma ter uma duração de dois a três anos.
  • FASE AVANÇADA – É a fase final da doença. O paciente deixa de conseguir realizar quaisquer das tarefas do dia a dia. Perde o contacto com o mundo e não consegue comunicar nem responder a nenhum dos estímulos exteriores. O paciente fica totalmente desorientado no espaço e no tempo, deixa de reconhecer os familiares, perde todas as capacidades verbais, deixa de controlar os gestos e, na fase terminal, deixa de conseguir mastigar e engolir e não controla os esfíncteres. Esta fase – que pode prolongar-se por dois ou três anos – é a mais dura, tanto para o doente como para os seus familiares, relativamente aos quais ele está total e absolutamente dependente.

 

CIÊNCIA EM CONSTANTE EVOLUÇÃO

Até hoje, não se conhece a verdadeira causa da doença de Alzheimer. Por isso, não existe qualquer tratamento que possa curá-la. Este prognóstico tão pouco animador é verdadeiro, embora também seja certo que a constante evolução da ciência médica abre perspetivas otimistas.

  • TRATAMENTO PRECOCE – O início de um tratamento numa fase precoce da doença é vital para retardar a sua evolução. Os especialistas consideram que existe uma “janela crítica”, durante a qual o tratamento deve ser iniciado para que tenha maior eficácia. Quanto mais se atrasa a instauração da terapêutica, pior é o prognóstico. Com efeito, existem medicamentos, como os inibidores da colinesterase, que podem travar o agravamento de alguns dos sintomas, durante um período de tempo mais ou menos prolongado. Por sua vez, a memantina é um outro fármaco – pertencente a um grupo de medicamentos designados antagonistas dos recetores N-metil-D-aspartato – que pode mitigar os sintomas nas fases intermédias e avançadas da doença.
  • INVESTIGAÇÃO – Atualmente, estão em curso diversas linhas de investigação, tendo em vista o tratamento definitivo. Alguns estudos já demonstraram que determinados anti-inflamatórios podem atrasar a evolução da doença. Também existem trabalhos que apontam os antioxidantes como capazes de retardar o seu avanço. A utilização de células estaminais mesenquimais está igualmente a ser testada. Porém, nenhum destes estudos é, por agora, concludente.
  • AJUDA PSICOLÓGICA – A ajuda psicológica faz parte do tratamento, durante os primeiros estágios da doença de Alzheimer, nos quais o paciente está consciente do seu problema e ainda comunica bem com o exterior. A depressão é frequente nessa fase inicial, podendo controlar-se à base de um tratamento antidepressivo adequado, o qual incrementará bastante a sua qualidade de vida.
  • MEDICINA PALIATIVA – A chamada medicina paliativa é uma especialidade cujo objetivo prioritário é cuidar do doente na fase terminal da sua vida, aliviando, na medida do possível, a dor e o sofrimento. O doente poderá manter, desta forma, uma certa qualidade de vida, que lhe permitirá enfrentar esses dolorosos momentos com dignidade.

 

SINTOMAS DA DOENÇA

É importante conhecer os principais sintomas de alerta. Cada doente começa por manifestar certos sintomas concretos, embora muitos sejam comuns. Se nota que algum familiar seu apresenta dois ou mais destes sintomas, durante um período de tempo prolongado, convém que o leve a consultar um neurologista.

  • PERDA DE MEMÓRIA – Quando os esquecimentos começam a ser mais frequentes do que o habitual, aumentando de frequência à medida que o tempo passa. Em muitos casos, o doente está consciente dos seus esquecimentos e isso irrita-o, procurando escondê-lo.
  • DESORIENTAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL – Quantas vezes ouvimos os nossos idosos dizerem “não sei que dia é hoje...”? Quando se perde a noção da passagem do tempo, é motivo para começar a preocupar-se. Por outro lado, se o idoso deixa de controlar os espaços que lhe eram familiares, como o caminho para o mercado ou para o jardim, há que procurar ajuda imediata.
  • DIFICULDADES NA VIDA QUOTIDIANA – Tarefas que antes eram fáceis transformam-se num mundo de dificuldades. O idoso esquece-se, por exemplo, de como usar os eletrodomésticos ou onde guarda objetos do quotidiano.
  • DIFICULDADES NA LINGUAGEM – Ao tentar expressar-se, o paciente não encontra as palavras adequadas para os conceitos e os objetos, sucedendo o mesmo ao tentar lembrar-se dos nomes das pessoas e dos lugares. Esta dificuldade deixa-o muito nervoso.
  • DESORGANIZAÇÃO – Por vezes, levam a cabo ações disparatadas e absurdas quanto à colocação das coisas, guardando objetos em locais irracionais, como a roupa no frigorífico, por exemplo.
  • ALTERAÇÕES NO COMPORTAMENTO – Se se produz uma ação que o motive, o paciente sofre alterações bruscas de humor e de comportamento.
  • AUSÊNCIA DE INICIATIVA – Decisões da vida quotidiana, como preparar a comida, controlar o dinheiro, planear as compras, etc., deixam de interessar ao doente. Este limita a sua atividade quotidiana a tarefas simples, que não impliquem uma iniciativa concreta.

 

IMPORTÂNCIA DOS EXERCÍCIOS COGNITIVOS

A realização de exercícios diários de estimulação da cognição e da memória ajuda os doentes de Alzheimer a retardarem a perda das suas capacidades cognitivas.
De acordo com psicoterapeutas, a estimulação das capacidades cognitivas é fundamental em doentes com deterioração intelectual, nomeadamente com a doença de Alzheimer, uma vez que se pretende atrasar o declínio destas capacidades. Uma das consequências desta patologia prende-se com a existência de défices, sobretudo, no que diz respeito à memória imediata. Este tipo de memória apresentará resultados positivos com exercícios regulares. Como exemplo, um desses exercícios consiste em contar uma história e pedir ao doente que tente contar a mesma história usando as suas próprias palavras.
É importante que a informação recebida seja bem compreendida, mas no caso de existirem erros no relato da história contada pelo idoso, não se deve dramatizar, aceitando a sua própria versão.
Este tipo de intervenção contribui para prevenir ou minorar o declínio das funções cognitivas, como a memória, a linguagem e o raciocínio, entre outras. Além deste tipo de exercícios, é importante que o doente também seja estimulado a realizar atividades físicas, tais como caminhadas.

 

DESCOBERTO MECANISMO QUE ATRASA UMA DAS CAUSAS DE ALZHEIMER

ma equipa internacional liderada pelo investigador Cláudio Gomes, do BioISI - Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, descobriu um novo mecanismo bioquímico nas células nervosas que retarda a formação dos depósitos de agregados de proteína no cérebro, causadores da doença de Alzheimer.
A descoberta, publicada em Junho de 2018 na revista científica Science Advances, da prestigiada American Association for the Advancement of Science, revela que uma proteína inflamatória abundante no cérebro e produzida como resposta a danos nas células nervosas pode ter uma nova função e constituir a primeira linha de defesa na supressão da formação de agregados amiloide. A proteína S100B era já bem conhecida pelo seu papel multifuncional em processos de sinalização celular e neuroinflamação, sendo mesmo um biomarcador de lesões cerebrais traumáticas e de envelhecimento – curiosamente, dois fatores de risco da doença de Alzheimer. “A nova função que agora evidenciamos para a proteína S100B como regulador da agregação proteica estabelece um novo elo entre dois processos celulares que estão profundamente afetados em várias doenças neurodegenerativas: agregação proteica e neuroinflamação”, elucida o Prof. Cláudio Gomes, coordenador do estudo. A doença de Alzheimer resulta da acumulação de formas tóxicas da proteína beta-amiloide sob a forma de agregados que causam a morte dos neurónios, resultando em demência.
Este processo neurodegenerativo é acompanhado de importantes alterações bioquímicas no cérebro, como as que resultam da abundante produção de moléculas da resposta neuroinflamatória. De entre estas, destacam-se as chamadas alarminas, como a proteína S100B, que foi agora objeto de atenção especial.

 

DIA MUNDIAL DA PESSOA COM DOENÇA DE ALZHEIMER

No mês em que se assinala o Dia Mundial da Pessoa com Doença de Alzheimer, a 21 de setembro, a associação Alzheimer Portugal lança uma campanha solidária onde pretende apresentar-se como um “recomeço” com que as pessoas podem contar, após conhecerem o seu diagnóstico ou do seu familiar, ao mesmo tempo que chama a atenção para os sinais de alerta e importância do diagnóstico precoce. Estima-se que em Portugal existam cerca de 200.000 pessoas com demência e que esse número irá triplicar até 2050, chegando a mais de meio milhão de indivíduos em Portugal e a cerca de 135 milhões em todo o mundo. A demência é causada por doenças do cérebro, sendo a doença de Alzheimer a forma mais comum de demência, constituindo cerca de 60% a 70% de todos os casos. Constituída especificamente para promover a qualidade de vida das Pessoas com Demência, dos seus familiares e cuidadores, a associação Alzheimer Portugal conta já mais de 30 anos e um leque de serviços que, em 2019, chegou a quase 7000 beneficiários diretos. Ana Bola, Ivo Canelas, Mariana Barbosa, Rita Brutt, Sandra Santos, Sara Norte e Vítor Norte são as caras desta campanha, onde surgem imagens que parecem ser de despedida, mas que acabam por se transformar em recomeços, indicando que a Alzheimer Portugal está disponível para ajudar no recomeço após o diagnóstico. Quanto mais cedo forem detetados sinais, mas cedo se pode obter o diagnóstico e mais facilmente se pode contribuir para retardar os seus sintomas. Pessoas mais novas também podem desenvolver demência e podem continuar a viver bem durante vários anos, quando a demência é detetada em fases iniciais.
A doença de Alzheimer caracteriza-se por um processo neurodegenerativo progressivo, com a destruição dos neurónios, principalmente dos que têm função na memória.
Estima-se que em Portugal existam cerca de 200.000 pessoas com demência e que esse número irá triplicar até 2050.

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